Xi Jinping não recua: a China enfrenta tarifas de Trump com resistência estratégica

Conflito comercial entre EUA e China se intensifica com ameaça de tarifas adicionais de até 104%, enquanto Pequim aposta na autossuficiência e mobiliza sua população para resistir. A tensão entre China e Estados Unidos voltou a escalar com força total. O ex-presidente Donald Trump, em mais um movimento agressivo contra Pequim, propôs um aumento de 50% nas tarifas sobre produtos chineses. Se implementada, a medida elevaria a carga tributária total para 104%, impactando diretamente setores-chave do comércio internacional.

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4/9/20253 min ler

Xi Jinping endurece o discurso: ceder seria arriscar sua autoridade

Para Xi Jinping, recuar neste momento não é uma opção viável. O presidente chinês vem construindo sua imagem como o líder que vai restaurar a glória da China — e fazer concessões a Trump colocaria essa narrativa em xeque. Segundo o Ministério do Comércio da China, as ameaças dos EUA são "chantagens", e a resposta de Pequim será lutar “até o fim”.

Nos bastidores, o impasse é ainda mais complexo. Para analistas, Xi se encontra preso entre a necessidade de manter sua autoridade interna e o risco de uma guerra comercial prolongada, que pode afetar duramente a economia chinesa. Ao contrário de países como Vietnã ou Tailândia — que têm adotado posturas mais flexíveis — a China prefere resistir, mesmo que isso exija sacrifícios.

“A estratégia da China tem se baseado em três pilares: firmeza, resiliência e retaliação”, comenta Jeffrey Gewirtz, pesquisador de relações EUA-China.

TikTok, portos e Canal do Panamá: o efeito dominó das tensões

O aumento das tarifas também influenciou decisões estratégicas recentes de Pequim. A venda de parte do TikTok para investidores americanos foi cancelada, e há resistência na venda de ativos logísticos, como os portos da CK Hutchison no Canal do Panamá. A mensagem é clara: a China está disposta a cortar laços, mesmo em áreas sensíveis.

Analistas afirmam que, com a possibilidade real de mais tarifas, Pequim já trabalha com a hipótese de um confronto inevitável. A China insiste que está aberta ao diálogo, mas “não sob pressão”.

Washington mira mais do que tarifas: a meta é conter o avanço da China

As medidas de Trump vão além da disputa comercial. Países como Vietnã e Tailândia também foram afetados pelas novas tarifas, já que muitas empresas chinesas migraram suas operações para esses locais como forma de driblar as restrições americanas. Para Pequim, isso reforça a visão de que os EUA querem frear sistematicamente a ascensão da China como potência global.

“Para Xi, ceder agora não resolveria o problema central, que é o desejo americano de limitar o crescimento chinês”, explica Ryan Hass, da Brookings Institution.

O impasse do comércio bilateral: números e desafios

Mesmo que haja uma abertura para diálogo, o abismo comercial entre as duas potências é profundo. Em 2023, os EUA importaram cerca de US$ 440 bilhões em bens chineses, enquanto a China comprou US$ 144 bilhões em produtos americanos. Pequim entende que Trump está tentando forçar a repatriação de indústrias para solo americano — um processo de "desacoplamento" econômico cada vez mais evidente.

Xi Jinping, por sua vez, tem acelerado projetos de autossuficiência, com foco em setores estratégicos como semicondutores e inteligência artificial, prevendo futuras disputas com o Ocidente.

População como escudo: o apelo à confiança nacional

Com o impacto das tarifas já sendo sentido nos mercados, o governo chinês mobilizou seu chamado “time nacional” — bancos estatais e fundos públicos — para conter a queda nas bolsas locais. O People’s Daily, jornal oficial do Partido Comunista, publicou um editorial pedindo à população que confie na capacidade do país de superar as dificuldades.

Apesar dos esforços, especialistas alertam que tarifas de 104% teriam efeitos devastadores. Exportadores chineses já enfrentam resistência em mercados como a União Europeia, e realocar a produção para outros destinos não será tão simples.

“Se a questão é quem aguenta mais dor, a China não vai recuar”, afirma Wang Wen, da Universidade Renmin.

Wang ainda destaca que muitos componentes essenciais produzidos na China não têm substitutos globais, o que aumenta o poder de barganha de Pequim.

A guerra narrativa: EUA como vilão, China como bastião de ordem

Pequim também intensificou sua guerra de narrativas. Em resposta às novas tarifas, o Ministério das Relações Exteriores da China publicou um vídeo nas redes sociais retratando os EUA como uma fonte de instabilidade global. Imagens de tropas americanas em situações caóticas contrastavam com missões humanitárias chinesas, tudo ao som de "Imagine", de John Lennon.

Essa tentativa de reforçar a imagem da China como um parceiro confiável e promotor da ordem global visa atrair aliados e enfraquecer a influência americana, especialmente na Ásia e no Sul Global.

Xi planeja, inclusive, uma visita ao Sudeste Asiático, com paradas no Vietnã, em uma possível jogada para reforçar alianças regionais — embora países como Japão e Coreia do Sul sigam cautelosos devido à dependência militar dos EUA.

Conclusão: Choque de potências deve moldar o futuro da economia global

Com posições cada vez mais inflexíveis de ambos os lados, uma resolução rápida parece improvável. A guerra comercial entre China e Estados Unidos não é apenas uma disputa tarifária: é uma batalha por liderança econômica, política e tecnológica no século XXI.

Enquanto isso, o mundo assiste — preocupado — aos desdobramentos, temendo os impactos de uma desaceleração global provocada por duas potências que se recusam a ceder.